domingo, novembro 29, 2009

Doadores de medula óssea - “Uma picada que sabe bem”

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Imagem: Diário de Coimbra
Legenda: Luta desesperada de Fábio para vencer a leucemia serve para desmistificar medo que ainda existe de ser dador de medula
"Cinco minutos. Nem mais um segundo. Foi quanto tiveram de dispor do seu tempo as 220 pessoas que ontem responderam ao apelo desesperado dos pais do Fábio e se deslocaram ao Centro de Histocompatibilidade do Centro para tentar ser o dador compatível que este jovem de 17 anos, natural de Vila Nova de Anços, com leucemia, tanto precisa.
A desculpa de falta de tempo, que quase todos usamos, no nosso complicado dia-a-dia, não pode, portanto, ser utilizada para não participar. Nem mesmo o receio que esta ideia de ser dador de medula ainda provoca em muitas pessoas menos informadas. Inscrever-se como dador resume-se, nesta primeira fase, a responder a um formulário, a alguns segundos de conversa com um médico e, depois, a uma simples recolha de sangue, exactamente igual a quando fazemos análises ou queremos saber o nosso grupo sanguíneo.
Isto tudo, com uma “pequena/grande” diferença: «é uma picada que sabe bem». Porque é um acto de solidariedade. De amor. E, especialmente, porque é uma “picada” que pode vir a salvar uma vida. A do Fábio ou a de qualquer outro doente, em todo o mundo que, neste momento, esteja na mesma luta desesperada por encontrar um dador compatível para continuar a usufruir da vida.
O Fábio e a sua luta contra a doença justificou a abertura do Centro de Histocompatibilidade a um sábado, mas os dados de todas as pessoas que ontem se inscreveram, muitas motivadas pela história deste jovem, passam a fazer parte de uma base de dados informática nacional e internacional, o que significa que qualquer um destes 220 pode vir a salvar a vida de alguém – a do Fábio ou de qualquer outra pessoa – em qualquer parte do Mundo.
«É uma probabilidade muito baixa. O caso do Fábio, que é o rosto desta campanha, é um paradigma disso mesmo. Mas é preciso que as pessoas desmistifiquem este acto e olhem para ele como um gesto solidário para salvarmos a vida de outros rostos, que não conhecemos», adianta Maria Luísa Pais, directora do Centro de Histocompatibilidade do Centro.
Foi com esse espírito, quase de missão, que Francisco se deslocou ontem àquele centro, instalado no edifício à entrada dos HUC. Há muito tempo que pensava em inscrever-se. Foi adiando. Nem foi o desconhecimento que o fez adiar esta vontade de ajudar porque «já sabia que era um processo fácil», adianta. Agora também já não importam as razões, porque, como confessa, espera apenas pelo dia de ser chamado para ser dador de alguém. «Esse processo já não conheço, mas espero sinceramente vir a conhecer», continuou este gestor de produto, de 32 anos, residente em Coimbra.
Avioneta foi “clique” para (alguns) indecisos
Nem toda a gente é como o Francisco. Muita gente continua a ter uma imagem terrífica da palavra medula. Muita gente continua a desconhecer como é inscrever-se como dador. E acaba por não o fazer por receio. Era o que acontecia com a Sílvia Coelho, bancária, de Coimbra. «Pensava que era uma coisa complicada», confessa, enquanto preenche o formulário, juntamente com Ricardo Correia, auditor comercial, que se deslocou com ela ao centro.
Conhecer a história do Fábio, dar um rosto a um sofrimento que pertence a milhares de pessoas em todo o mundo, fê-la pensar na possibilidade de um dia poder ser ela ou alguém seu conhecido a precisar de ajuda. Ver ontem a voar pelos céus da cidade uma avioneta a recordar que o Centro de Histocompatibilidade estava de portas abertas para quem quisesse ajudar este jovem de 17 anos ou qualquer outro doente, foi o “clique” que precisava para participar. No final, a conclusão foi a óbvia: «não custa absolutamente nada», garante.
Mais de 200 pessoas tiveram ontem um “clique” igual ao da Sílvia. Não foi a enchente de há um ano atrás, quando, também a um sábado, com a história do Fábio a servir de mote a uma campanha de angariação de dadores de medula, o centro abriu portas para receber 800 inscrições e engrossar a base de dados de possíveis dadores. Ontem de manhã, terão sido cerca de uma centena, «a conta-gotas», a fazer recolha de sangue e à tarde, mesmo sem filas ou atropelos, não parava de entrar gente para tentar ajudar.
De todas as idades, de todos os estratos sociais, sem quaisquer outras intenções que não sejam tentar que este jovem de 17 anos e a sua família recuperem a esperança e o sorriso. «É mais uma esperança que se abre», desabafa, sem perder a fé, Isabel Mendes, mãe do Fábio, anónima, quase envergonhada, a um canto do hall de entrada do Centro de Histocompatibilidade, em sinal de agradecimento por todos quanto dispuseram de cinco minutos de um sábado em nome do seu filho.
A campanha decorreu ontem. Mas o Centro de Histocompatibilidade do Centro está aberto todos os dias úteis – na Praceta Professor Mota Pinto, no edifício à entrada dos HUC - para quem, tocado pela história de este ou de outros “Fábios”ou consciente de que, um dia, podemos ser nós a precisar, se queira inscrever como dador de medula. Basta que tenha entre 18 e 45 anos, que seja saudável, que tenha mais de 50 kg, que nunca tenha recebido uma transfusão de sangue… e que possa dispor de cinco minutos do seu preciso tempo. Como vê, não custa nada." (Diário de Coimbra, 2009-11-29 00:37:00)
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